terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sobre meu problema com o passado e os filhas da puta que me chamavam de gordo na escola

O passado sempre foi um problema pra mim. Não o meu, mas o da mulher que eu tanto amo e quero bem. É uma coisa involuntária sabe? Em questão de poucos minutos, sendo racional, eu percebo que eu sou um idiota de achar que uma coisa que aconteceu há anos atrás, ou em uma época conturbada, seja realmente influenciável no presente. Mas naquela hora, que eu começo a pensar sobre o passado, parece um demônio surgindo dentro de mim – e talvez o seja, já que na maior parte do tempo eu sou um cara até normal, regulado e feliz. Mas á, Seu passado, vc parece o fogo que arde sem se ver, a ferida que dói e não se sente (e que me perdoe Camões por trocar o amor pelo ciúme, mas foi inevitável) de tanto que me machuca as coisas que aconteceram e eu nem presenciei.

É irracional, eu sei. Mas saber que ela foi feliz sem mim é demais para o meu coração. Com certeza que eu sou possessivo, egoísta e tudo o mais que você quiser dizer de mim. Mas quem não é? Talvez seja só a minha insegurança – que só existe graças aos filhas da puta que me chamavam de gordo, chupeta de baleia, entre outros nomes mega ofensivos, e das meninas que não davam a mínima por mim no iníco da minha adolescência (parênteses dentro do travessão é feio, mas precisava dizer “chupa patizinhas, chupa plaiboizada, por que hoje eu sei que as pessoas mais fodas do mundo, que ficarão vivas pela eternidade, não eram bonitinhos alienados, e sim os excluídos que usavam o tempo para pensar, e não para achar que eram os melhores do mundo” [eu não sabia como fazia para colocar um apêndice dentro do parênteses que já estava dentro do travessão, mas era só pra dizer que eu aprendi a fazer parênteses’s tão grandes com a mulher que tanto me mata de ciúmes]).

Mas não seria justo eu dizer que toda esta ciumeira do que já passou, do que não existe mais, é culpa só dos filhos da puta que me zoavam por eu ter vários “quilinhos” a mais e pelas meninas que achavam que eu jamais seria um bom namorado por ser gordo (só mais um apêndice, ok? Uma coisa que eu também aprendi com ela, é que não podemos julgar as pessoas, eles não têm culpa de pensar assim. É a ditadura da beleza imposta pela sociedade. Mas mesmo assim, eles continuam sendo filhos da puta pra mim). Pensando aqui, só eu e eu mesmo, a culpa não é só d’eu ser inseguro. Acho que é por que eu amo demais. Não por isso, até porque seria uma qualidade, e não um defeito. O problema é que eu amo demais e quero ver resultados – como um grande líder de um empresa. Quero ser o melhor em tudo o que fiz, quero ser o único a ser lembrado na memória dela, eu quero tudo e eu quero agora (coloquei essa última frase só pra demonstrar a minha inspiração na música Five to One, do The Doors, quando fala “We want the world and we want it now”).

Para alguém inseguro como eu, é muita cobrança. Mas não é cobrança dela, é cobrança de mim consigo mesmo (E antes que algum babaca metido a intelectual pense que eu escrevi “parênteses’s” e “cobrança de mim consigo mesmo” errado, resolvi aproveitar para falar também que odeio essa coisa de certo e errado. Consigo ver beleza em muitos “pobremas” e feiúra para encher o mundo de desgraça em quem fala direitinho). E essa é a pior cobrança (de mim comigo mesmo para quem não lembra). Se alguém vira e fala “porra, você não fez isso e bla, bla, bla”, eu pensarei “ah, vai tomar no cu dessa porra. O caralho com essa merda, agora que eu não faço mais buceta nenhuma”. Mas se eu falo “porra, você é um merda mesmo, nem sabe ser o cara que ela mais amou”, eu logo penso “merda, realmente, aposto que ela prefere não sei quem lá”. Aí quando eu faço isso eu fico mal, e pouco depois perco a paciência, grito, falo merda, mas eu sou assim. É mais forte do que eu. Queria muito conseguir mudar isso. Mas é tão difícil – falo isso porque já tentei diversas vezes, mas quando assusto o passado já está a comer o meu cu sem vaselina, nem cuspe e nem manteiga.

Mas o que eu não percebo é que, justamente esse meu probleminha com o passado, sempre a faz não ser tão feliz comigo quanto poderia. E é aí que mora o problema a ser solucionado. Devo eu tentar fazer uma lavagem cerebral – como no “Laranja Mecânica” ou no “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” – ou será que simplesmente pensando sobre isso, depois de entornar quatro pingas e algumas latinhas de cerveja, eu acabarei mudando? Acho que ficarei com a segunda opção, pelo menos assim não corro o risco de algo dar errado e eu acabar esquecendo tantas alegrias que eu vivi ao lado dela.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Bom dia, tristeza

(De preferência que seja lido ao som da música de mesmo título que o texto. Versão do Adoniran Barbosa, é claro)

Existem tristezas e tristezas. Também existem tristezas que nem são realmente tristes, mas disso eu falo depois. Um fato é que a tristeza em si, é muito mais inspiradora do que a felicidade. Porém, tem vezes que a tristeza é controlável, fácil de ser dominada. Outras nem tanto, te pegam despreparado e, quanto mais se resiste mais dói.

E é nos dias dessas tristezas extremas que você mais precisa de alguém do seu lado. Não é qualquer alguém. Imagino eu que cada um encontra o seu e só ele será capaz de te manter sob controle. Quando digo sobre se controlar, não é se segurar, mas sim o antônimo. Pelo menos comigo é assim. A tristeza vem, me dá um soco no meio da boca, sangra um pouco a minha beiça, mas eu insisto e tentar parecer um herói – feito o Rocky que nunca fui.

A dor de segurar um choro parece ser a maior que consigo sentir. Parece que um daqueles peixes que incham (eu jamais conseguiria lembrar o nome do maldito peixe agora) está dentro do seu pulmão, inflando com todo o gás e te espetando do lado de dentro do seu peito. Existe – assim como as várias tristezas – um número de pessoas pra te confortar. Mas pai, mãe e irmãos não entram nesta lista, pois o amor de família não deve ser comparado nunca com nada.

Sobram os amigos e esta pessoa, a escolhida. Quando se vê alguém que você ama muito – minha mãe, como exemplo real – chorando, com essa tristeza maior do mundo, dessas que parece que não vai acabar nunca, me dói pra caralho. (Parênteses extremamente necessários, só para reforçar o quanto Caralho e Cacete são os adjetivos perfeitos para expressar qualquer excesso). Mas eu seguro firme, até mesmo para tentar parecer forte o suficiente para dar apoio aos entes queridos. E tudo o que eu precisava era do ombro, de um amigo ou dela, mas eu não tinha.

Quando uma pessoa morre, por mais que você não tenha mantido contato com a mesma, tudo parece te dar arrependimento de não ter se envolvido mais com ela. No meu caso foi um tio, que eu fiquei anos sem ver, mas que teve grande influência na minha vida. Quando criança ele me visitava sempre – ele era lixeiro – e chegava na esquina de casa assobiando. Esse simples gesto, um Fiu fiu riu fiu, alegrava a mim e minha irmã, que corríamos só pra ver ele descendo a rua pra nos ver. Ele fazia piadas, imitava um peru (Deus, como podia alguém fazer um “Ah glu glu glu glu” tão bem) e trazia um tempo de alegria a mais na nossa vida. Talvez, por toda essa alegria que ele transmitia, que eu resolvi, aos 4 anos, que queria ser lixeiro quando crescesse.

Depois que cresci, mudei pra cidade grande, fiquei pelo menos 10 anos sem vê-lo. Fui ouvindo as histórias, de como ele havia sido porra louca quando jovem. Curtia um Queen, Pink Floyd, Led Zeppelin, enfim, várias bandas que curto hoje em dia e várias outras que eu poderia ter descoberto se conversasse com ele. Só fui vê-lo novamente já com câncer – vítima do estilo de vida que levava e que tanto admiro, livre. Agora é tarde, todas as histórias que ele tinha pra contar nunca mais sairão da boca dele. E, por fim, a única coisa que eu realmente queria, era ter ela por perto, pra deitar em seu peito e desabar em lágrimas, feito um bebê faminto, sem ter que me preocupar com a maldita dor do choro reprimido.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Pensamentos pós aceleração da mente

Cá estava eu, deitado em minha cama, pronto para dormir. Eis que me aparece um pernilongo zunindo em meu ouvido. Dois primos meus – ambos mais pigmentados que eu – dormiam tranquilamente no quarto enquanto eu me contorcia com aquela merda de barulho na minha orelha. Com o cérebro ainda meio atordoado, comecei a pensar.

“Muriçoca metida da porra. Só gosta de sangue de branco. Dois pretos e ele vem logo em mim. Pernilongo é igual gente. Só que come sangue. Pra eles, nas veias de um preto corre uma tonelada de feijoada. O sangue de candango, é feito uma buchada de bode, daquelas bem caprichadas, que dá uma suadeira que só ela. Já o coração dos branquelos (como eu), bombeia um sangue que parece ter vindo de um restaurante fino. Aquela mixaria de arroz, uma vitela minúscula e uns verdinhos pra enfeitar. Não mata a fome como a feijoada, a buchada de bode, o tropeiro, o mexidão etc. Em compensação, deixa o ego maior que o mundo. Bem que eu falei desde o início. Muriçoca metida pra porra cara.”

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Denúncia de erros médicos em Brumadinho

Brumadinho. Uma cidade jovem, na flor da idade com seus 55 anos. Há pouco mais que 50 km da capital mineira, o município é palco de um dos mais belos museus, o Instituto Inhotim, porém, a saúde e lá pode não andar tão bem quanto seus pontos turísticos. A suposta imprudência do cirurgião do Hospital Regional de Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, pode ter feito pelo menos três vítimas nos últimos anos.

O último deles seria no último dia 7 de julho, quando Denise Monteiro, de 34 anos, foi fazer uma cirurgia de Laqueadura das Trompas, procedimento médico relativamente simples, e acabou com o seu intestino perfurado pelo médico, identificado pelas vítimas apenas como Dr. Leandro. "A SALPINGOTRIPSIA BILATERAL, VULGARMENTE CHAMADA DE LAQUEADURA DE TROMPAS, É UMA FORMA DE CONTRACEPÇÃO CIRÚRGICA E NÃO "SERVE PARA ACABAR COM A ESTERILIDADE" COMO FOI DITO", explicou o SR. ANÔNIMO. Ainda assim, o médico não concluiu a cirurgia e Denise continua internada, apesar de agora ter sido transferida para Betim para passar por exames.

De acordo com a mãe da vítima, Maria Marques dos Santos, de 54 anos, a filha tem 5 filhos, sendo que o último tem apenas 4 meses. “Minha filha estava bem, só queria evitar outros filhos, e agora está internada, sentindo muita dor, não consegue nem beber água que vomita”, contou Maria. O pai dos filhos de Denise, o lavrador Itamar Pereira Sobrinho, de 33 anos, acompanhou a mulher na transferência para Betim e conta que não sabe se conseguirá atestado para não descontarem os dias de trabalho que está faltando. “Só depois dos exames de hoje saberemos quanto tempo vamos ter que ficar assim”, disse o lavrador.

Marlon Henrique de Jesus, de 33 anos, tem dois filhos e, há cinco anos atrás, foi até o Hospital Regional de Brumadinho para fazer uma vasectomia. O cirurgião teria dado a anestesia de um lado da virilha da vítima, fez o corte e não conseguiu concluir a cirurgia. Na segunda tentativa, o médico resolveu abrir o outro lado da virilha, poré, teria se esquecido de dar anestesia no lado que seria aberto. Ainda segundo Marlon, foi necessária a intervenção de outro médico para concluir a cirurgia, já que Leandro não foi capaz de fazê-lo.

“Como o corte foi muito profundo, sempre sangrava, eu sentia muita dor, fiquei tomando antibiótico e acabei tendo que ficar 45 dias internado”, lembrou a vítima. Ele teria perdido o emprego que tinha na época devido ao tempo exagerado de recuperação. “Nada foi investigado até hoje, porque Brumadinho é um província, tem uns fazendeiros, uns doutores, que se você tentar agir contra essas pessoas ainda recebe represálias. O prefeito é poderoso e eles acham que podem fazer qualquer coisa”, protestou Marlon.

Depois do parto de sua única filha, Francis Natália da Silva, de 24 anos, nunca mais conseguiria ser a mesma pessoa. Segundo ela, não por causa dos seus momentos de felicidade com a filha, mas por causa de uma cesariana mal feita. “Têm sete anos que fiz a cesárea, já fiz oito cirurgias, sete com o Dr. Leandro, e a última em um hospital de BH. Depois disso, com tantas complicações, eu nunca mais consegui trabalhar. Consegui um emprego nos últimos sete anos, o problema voltou e eu acabei tendo que sair”, falou Francis. A cicatriz da cirurgia sempre infeccionava após algum tempo, então ela precisava ir ao hospital, abrir a ferida, limpar e suturar novamente.

De acordo com Francis, na última cirurgia feita em Brumadinho, há quatro meses, o “doutor” nem sequer a levou para o bloco cirúrgico para realizar o procedimento. “Ele fez na sala de urgência mesmo, deu a anestesia mas cortou até um lugar que eu ainda estava sentindo tudo. Eu estava acordada, senti a dor todinha. Então outro médico chegou e consertou o que ele estava fazendo”, queixou-se. Ela conta ainda que o médico a liberou logo depois de acabar a cirurgia e nem sequer receitou algum remédio pra dor, ela precisou pedir no posto de saúde a receita dos medicamentos. Agora, a vítima espera que, com a cirurgia feita em Belo Horizonte, o problema termine e sua vida volte ao normal.

A Secretaria de Saúde informou, no dia apenas que o auditor da área de saúde já está apurando as dimensões dos casos. Agora, os mais de 33 mil moradores de Brumadinho só precisam esperar pra ver se os problemas na saúde serão resolvidos.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Coincidências

Não sei se todo mundo é assim, talvez seja. Só sei que sempre que leio alguma coisa interessante em algum livro tenho idéias pra escrever textos. Foi assim com a Divina Comédia do Dante, com Água Viva da Clarice e com a Insustentável Leveza do Ser do Milan Kundera. Assim como Tomas, personagem principal do último, eu acredito que grandes amores nascem de uma série de coincidências. Lendo sobre o amor do “macho rústico” por Tereza, eu tive a idéia de escrever isso, que começou como uma explicação, mas na verdade era pra ser uma carta de amor.

Talvez para muitos as coisas que eu vou dizer não seriam coincidências, mas sim coisinhas “méla- saco” quaisquer. Eu sempre fui uma pessoa muito odiosa, muito mesmo. Julgo se vou gostar de uma pessoa ou não simplesmente pelo que vejo no primeiro olhar. Sei que com isso deixei de conhecer muitas pessoas, mas sou assim e não sei como mudar. Talvez isso seja culpa da sociedade, assim como tudo de ruim que existe nas pessoas (aprendi a pensar assim com ela). Eu cresci sendo taxado de gordo, rolha de poço, bolota, chupeta de baleia, elefante e outros adjetivos nada agradáveis. Por isso, hoje eu chego num ambiente e já começo a olhar em volta: Aquele é um playboy que acha que o tamanho da roda do carro vai definir o tamanho do seu pinto, aquela é uma patricinha que escolhe o parceiro pelo tamanho do pinto – ou pelo tamanho da roda –, aquele é um excluído metido a popular que conversa com todo mundo, mas todos o acham um porre e por aí vai.

Primeiro dia de aula na faculdade. Sempre um dia muito tenso, marcante e, às vezes, definitivo. Logo na porta da faculdade taxei um. Vi o menino sendo trazido na porta da faculdade pela avó, e isso já era mais do que suficiente pra eu pensar que ele era um bostinha idiota e cheio de idéias fracas. Talvez eu estivesse errado, mas ao longo do curso minha idéia inicial se reforçou.

Foi, também, neste dia que eu vi ela pela primeira vez. Julguei logo o livro pela capa. “Metida a Cult, blasé, aposto que jamais vai me dar idéia”. Acho que por mais que eu a estivesse repulsando, estes foram os melhores adjetivos que já dei pra alguém num primeiro instante. O tempo foi passando e eu nem ousava olhar pra cara dela. Um dia, do nada, por falta de assunto em uma roda em que ela estava no meio eu disse na cara dela que não tinha ido com a cara dela nem fudeno. Pronto, dei a carta inicial. Talvez nenhuma mulher acredite nisso ele mesmo discorda quando o digo –, mas muitos homens hão de concordar: mulher se sente atraída por quem a rejeita.

Pouco tempo depois, tomando uma cerveja cruzei com ela dentro do boteco. Aí começaram a surgir as tais coincidências. Na época eu cismei de ser um pouco, digamos, metido a intelectual. Só ouvia sambinhas (como Chico Buarque) e só lia livros bem bacanas, modéstia a parte. Ela me viu tomando uma cerveja e perguntou como quem não quer nada: “Olha, vc bebe?”. Eu, como um bom cachaceiro, respondi que era lógico. Ela perguntou alguma coisa aí eu perguntei que tipo de música ela gostava e a resposta foi a 1ª coincidência: “Chico pra mim é um Deus”. Pronto, ela acabara de se mostrar 10% a mulher perfeita para mim.

Então perguntei de livros e ela disse que gostava de Clarice Lispector. Plim! Mais 20% minha mulher ideal. Depois disso pouco conversei com ela. Até que, um dia, fomos para um boteco depois da aula. Comecei a fumar um cigarro e ela “nossa, você também fuma? Me dá um trago aí”. Acabou. Já era 50% da minha mulher ideal, o suficiente pra eu passar uns 20 anos com ela sem jamais me cansar. Pedi logo uma cachaça – já comecei a pensar que o melhor era ficar bêbado logo pra ver se criava coragem pra tomar alguma atitude e não deixar a mulher meio perfeita me escapar.

Ela tomava cachaça, e como tomou. Nós dois no fim já estávamos completamente embriagados, ela de álcool e eu de paixão e, claro, da pinga também. O jeito que ela falava, os movimentos das mãos, a gargalhada, meu Deus, que gargalhada é essa que até hoje me satisfaz de felicidade (será ela divina ou coisa do capeta?). Tudo começou a ficar belo e, eu, mesmo bêbado não criava coragem para dar nem sequer uma cantadinha besta. Mas acabou saindo. O nosso amigo disse que ela estava com cheiro de mendigo, por causa da cachaça, e ela brincou pedindo um beijinho. Eu, só porque estava bêbado, soltei um “olha que eu dô hein”. Assim que o companheiro de golo, o último que restara, saiu para se esvaziar, ela aproveitou e fez aquilo que eu não vou me esquecer jamais. “Você acha que é melhor que todo mundo né?”, e aproximou o rostou. Eu, igual um coelho encurralado pelos cães dos caçadores, respondi “eu não”. Ela me beijou.

Claro que não foram apenas as três coincidências óbvias que eu relatei que tornou isso uma coisa magnífica. O mais belo é que em uma cidade com 2 milhões de habitantes, entre tantas possibilidades, eu fui encontrar ela. Eu tinha acabado de formar no ensino médio, ela já havia tentado outros 3 anos passar em outros cursos na faculdade federal. Eu fiz vestibular para quatro universidades. Passei nas três particulares, e só não passei na federal por que meu celular estava com a hora errada e eu perdi a prova aberta. Fui escolher justamente aquela que eu encontraria ela, e optei pela faculdade por casa das carteiras das salas. Quem escolhe uma universidade por causa da cadeira que vai sentar? Aposto que isso foi algum anjo diabólico que soprou no meu ouvido pra eu poder encontrar ela.

Além disso, no primeiro dia de aula, houve diversas pessoas que eu nem sequer notei, até porque sentaram fora do meu campo de visão crítica. Ela veio se assentar na mesa ao lado da minha, impossível que eu não a reparasse, criticasse e, por fim, me apaixonasse secretamente (secreto até pra mim mesmo, que negava por insegurança de achar que ela jamais me daria bola). Além disso, eu poderia ter faltado neste dia, assim como tanto eu quanto ela faltamos nos outros dois primeiros, mas nós dois fomos naquela data e ela se sentou ao meu lado e nem mesmo virou o rosto para dar um sorriso simpático.

Mas recomeçando a partir do beijo. Ela me beijou, eu a levei em casa e pronto, no outro dia eu viajaria, ela acordaria de ressaca e se arrependeria profundamente de ter agarrado o gordinho metido a revoltado da sala dela. Já eu, insegura até a medula, me apaixonei logo de cara. Enquanto viajava só pensava no quanto ela me pegou de surpresa quando me agarrou. Nó quanto aquilo tinha sido gostoso e no tanto que ela era exatamente o ideal de mulher – porra louca –que eu sonhei pra mim.

Depois disso precisei insistir muito pra ela se entregar pra mim, chorei algumas vezes, fiz ela chorar outras, ficamos separados por um tempo,mas, como sempre, acabamos ficando juntos novamente. Pra muitos parece pouco tudo o que eu falei, mas, pra mim, é mais do que o suficiente pra fazer dela a mulher que eu quero ter comigo até o dia em que o meu pulmão, que tanto já suspirou de amor, parar de se encher com o ar e com a fumaça dos tantos cigarros que nós fumaremos juntos.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Comédia Divina


Na primeira vez que padeci nos fogos incessantes do inferno, nem me dei conta do evento sagrado que me acontecia. Eu me embriaguei com as provas, como as lamentações sem fim, o ranger de dentes – que eu próprio sofri, talvez por medo ou excitação subconsciente – e até mesmo me queimei nas chamas, que em momentos eu desejava ter toda dentro de mim.

Mas ainda assim, não usufrui do divino inferno em que passei. Talvez porque nunca acreditei nem no sagrado, nem no proibido e prazeroso sofrimento eterno. Cinzas que me caíam ao cabelo, e todo o cenário dantesco me fizeram descrente. As velhas palavras de um hippie desdentado, ouvidas no templo da perdição – localizado na cidade mais boêmia por mim conhecida – me lembraram do meu guia, do meu Shaman, que, assim como todos, tem o diabo dentro de si.

A minha primeira vez nos Umbrais do sofrimento passou completamente despercebida, por conta da luz que não parava de brilhar em meu interior. A luz vinha de uma brasa – que estava dentro de uma lamparina – que, por conseqüência, estava dentro do mais vital de meus órgãos. A minha massa cinzenta estava cega pela luz de minha musa inspiradora, a minha Madonna, que me conduziu pra fora do meu pranto, diretamente para o gozo eterno.

Ao lado do meu pai, todo poderoso, e de minha mãezinha do céu – que permanecerá por toda eternidade rodeada por seus pequenos arcanjos – estava sentada a minha subversiva Madalena (ou Madonna, seja lá qual foi o nome que dei à ela). Da escuridão, eu alcancei o pecado de meus grandes pensadores, e cheguei a paz do orgasmo máximo do bom e velho pecado original.

Sem atravessar um r
io, mas um oceano, eu me apoderei da inspiração do velho sonhador de Florença, para ir do inferno ao paraíso em um passo de dança.

À minha Beatrice

segunda-feira, 2 de março de 2009

Eu quero mesmo é compor uma canção pra ela



É triste quando você quer muito fazer uma coisa e não consegue. Eu me deprimo quando percebo que eu não sou poeta. Por que, senhor? Logo eu que já li tantos poemas e escutei tantas canções. Na prosa eu até me saio bem, mas poesia jamais. Eu queria tanto ser capaz de escrever uma linda música de amor para ela. Mas é tão difícil. Penso em contar a nossa história com uma melodia suave e com um refrão bem ritmado, mas é impossível escrever estes versos.

Eu tentei, eu passei dois dias tentando. Passava a mão no violão e fazia alguns acordes. Depois arrancava uma folha de papel, empunhava uma caneta e começa a escrever. No inicio me pareciam idéias brilhantes, mas quando relia. Ái. Eram rimas que doíam mais que enfiar agulha em baixo da sua unha. Qual poeta em sã consciência rimaria Atrapalha com Virar a Cara? Nenhum. Mário Quintana deve ter se contorcido ao ouvir uma coisa destas.

Eu sei o que eu queria dizer em uma canção. Eu queria contar que quando a vi achei tão linda que quis odiá-la, mas no fundo eu tinha acabado de encontrar alguém capaz de dar a luz a Deus de tão perfeita. Eu queria que todos soubessem que o amor nasce de acasos (como disse Milan Kundera, ela vai entender isso) e que o nosso acaso veio de uma dose de pinga barata. Seria grato às rimas se convencesse todos de que o amor é realmente a única coisa que engrandece um homem, e que o que me engrandeceu foi o dela.

Falaria das várias coisas que aprendi com ela, como a ouvir Chico, ler livro de uma bicha louca (sem preconceito nenhum) como o Caio Fernando Abreu e ainda enxergar coisas belas nele. Mas o melhor de tudo é que ela não só fez de mim um cara mais cabeça como também me faz sentir remorso a cada vez que critico as pessoas. Eu não deixei de ser eu, apenas aprendi a ser eu sem rebaixar a tudo e a todos ao meu lado. Claro que não deixei de criticar os outros, mas sinto um remorso imenso quando o faço sem antes conhecer.

Acho que serei o cara mais feliz no dia que não tiver de escrever tanto para dizer uma simples coisa como essa. Por que não consigo ser como o Raul e gritar para todos que o que eu quero mesmo é rimar amor com dor? Na verdade gritar para todos o que eu quero eu consigo, não sou capaz mesmo é de fazer o que eu quero. Queria tanto ter o dom de escrever em quatro versos que o meu amor é maior do mundo, que as nossas noites são como oração na catedral, que eu quero mesmo é cantar iêiêiê, que gosto tanto dela que prefiro esconder, que quando penso nela eu fecho os olhos de saudade, que eu vou amá-la até o dia em que o céu parar a chuva e que todas as estrelas sejam de nós dois.

O amor é meu assunto favorito, posso falar disso por horas sem cansar. Mas quando será que conseguirei musicar o amor? Eu já escrevi canções que ficaram um lixo, e assim o destino delas foi o mesmo, a lixeira. Já até musiquei um poema alheio, mas só serei verdadeiramente completo no dia que escrever uma música. Mesmo que isso seja na véspera de minha morte, mas ela terá de resumir o que eu sinto pela garota que um dia me fez descobrir que poesia não é nada, realmente nada, além do velho e démodé amor.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

A saga do gordo-careca

Episódio 5

Sim! Um beijo aconteceu. Eu não esperava algo como isto. Ela percebeu que eu também estava corado de vergonha, e eu percebi que ela tinha percebido. Assim que deu soltei um “desculpa pela palhaçada, estou bêbado... gordo dançando é ridículo, né?” e forcei um riso. Mas ela não, ela me olhava fixamente com um olhar matreiro como o de um motoqueiro selvagem. Fui içado para fora do inferninho, assim como quando eu a conheci, e quando assustei um rosto se aproximou bastante do meu e assim um diálogo começou:


– Você se acha pior que todos, não é?

– Ah, depende do ponto de vista, respondi idiotamente.

–Acha sim. Mas não é não.

O diálogo pode até ser curto e sem importância pra vocês, mas pra mim foi como se eu finalmente tivesse descoberto o que é a felicidade. Eu desejava que isso acontecesse desde quando avistei uma menina diferente de todas as outras e que despertava a minha libido e todo o meu amor contido. Claro que quando a vi pensei apenas coisas deploráveis sobre ela, estava acostumado a ser rejeitado por belas mulheres, e minha defesa era desejar que ela fosse destas que despertam uma ânsia de vômito em qualquer um. Mas a única náusea que sentia ao tê-la tão próxima de mim era aquela do desejo que vem destorcido. E com tão singelas frases a menina dos meus olhos conseguiu fazer com que eu me sentisse o homem mais belo. O melhor.

E o mais inesperado foi o beijo. Na verdade era esperado, mas enquanto a boca dela não tocou na minha eu não me convenci de que toda aquela proximidade era um beijo chegando lentamente. Vocês têm noção do que é um beijo como este? Foi a sensação mais extrema que conheci. Eu, que por mais que já houvesse tido outras garotas, jamais havia encontrado tamanha perfeição, fiquei simplesmente abismado, assustado e ao mesmo tempo extasiado com tal maravilha. Eu não direi como muitos dizem que vi fogos de artifício e que meu coração disparou como as metralhadoras alemãs em Stalingrado. Não, eu fiquei morto. Não sentia meu coração bater, meus pulmões se encherem de ar, não sentia nada. Todos os meus nervos se direcionaram para a única coisa importante naquele momento: aquela língua macia, molhada e mais quente do que já havia sentido, que lutava contra a minha numa batalha que mais parecia um tango mal ensaiado.

A imagem desse beijo não sai de minha cabeça: nós dois em pé no meio de um bar copo sujo, com uma trilha sonora que pouquíssimo importava para ambos naquele momento, sendo feitos um pro outro. E o melhor, éramos nós mesmos quem nos construíamos. E ela parecia realmente gostar de me beijar. Não sei como ela podia fazer uma coisa desta. Não conseguia parar de pensar que depois que passasse o efeito do nosso amigo álcool, ela sentiria ódio por ter se deixado levar pela minha declaração mal feita. E realmente ela viria a me revelar mais tarde que se arrependera daquilo por algum tempo.

Eu a amava desde o primeiro beijo, e por isso ela seria a dona de todos os meus pensamentos nos próximos dias, enquanto eu, para a tão completa e ao mesmo tempo complexa mente dela, não passaria de uma lembrança se esforçando para desaparecer. Mesmo eu sendo apenas um erro na vida dela que deveria ter ido embora em dois dias, graças a minha persistência ela foi obrigada a pensar em mim. Eu mandei mensagem no celular (que ela me passou após me deixar em casa) no mesmo dia. Não queria demonstrar toda a minha paixão contida, queria apenas mostrar interesse nela. Não obtive resposta, nem mesmo um código Morse.

É a partir de agora que uma nova fase deste, mal escrito e ridiculamente hiper-romantizado, conto se inicia. Chamarei esta nova era de: A guerra por Sabrina. Uma longa e injusta batalha se travou entre eu (lembrem-se: sou gordo, feio, careca e levemente ignorante) e outros rapazes (com toda certeza mais belos, intelectuais, cabeludos e que, além de tudo, tinham convívio diário com ela nas aulas de cinema), pelo coração de uma garota que não conhecia quão grande o amor podia ser.