Cá estava eu, deitado em minha cama, pronto para dormir. Eis que me aparece um pernilongo zunindo em meu ouvido. Dois primos meus – ambos mais pigmentados que eu – dormiam tranquilamente no quarto enquanto eu me contorcia com aquela merda de barulho na minha orelha. Com o cérebro ainda meio atordoado, comecei a pensar.
“Muriçoca metida da porra. Só gosta de sangue de branco. Dois pretos e ele vem logo em mim. Pernilongo é igual gente. Só que come sangue. Pra eles, nas veias de um preto corre uma tonelada de feijoada. O sangue de candango, é feito uma buchada de bode, daquelas bem caprichadas, que dá uma suadeira que só ela. Já o coração dos branquelos (como eu), bombeia um sangue que parece ter vindo de um restaurante fino. Aquela mixaria de arroz, uma vitela minúscula e uns verdinhos pra enfeitar. Não mata a fome como a feijoada, a buchada de bode, o tropeiro, o mexidão etc. Em compensação, deixa o ego maior que o mundo. Bem que eu falei desde o início. Muriçoca metida pra porra cara.”
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
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