sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Comédia Divina


Na primeira vez que padeci nos fogos incessantes do inferno, nem me dei conta do evento sagrado que me acontecia. Eu me embriaguei com as provas, como as lamentações sem fim, o ranger de dentes – que eu próprio sofri, talvez por medo ou excitação subconsciente – e até mesmo me queimei nas chamas, que em momentos eu desejava ter toda dentro de mim.

Mas ainda assim, não usufrui do divino inferno em que passei. Talvez porque nunca acreditei nem no sagrado, nem no proibido e prazeroso sofrimento eterno. Cinzas que me caíam ao cabelo, e todo o cenário dantesco me fizeram descrente. As velhas palavras de um hippie desdentado, ouvidas no templo da perdição – localizado na cidade mais boêmia por mim conhecida – me lembraram do meu guia, do meu Shaman, que, assim como todos, tem o diabo dentro de si.

A minha primeira vez nos Umbrais do sofrimento passou completamente despercebida, por conta da luz que não parava de brilhar em meu interior. A luz vinha de uma brasa – que estava dentro de uma lamparina – que, por conseqüência, estava dentro do mais vital de meus órgãos. A minha massa cinzenta estava cega pela luz de minha musa inspiradora, a minha Madonna, que me conduziu pra fora do meu pranto, diretamente para o gozo eterno.

Ao lado do meu pai, todo poderoso, e de minha mãezinha do céu – que permanecerá por toda eternidade rodeada por seus pequenos arcanjos – estava sentada a minha subversiva Madalena (ou Madonna, seja lá qual foi o nome que dei à ela). Da escuridão, eu alcancei o pecado de meus grandes pensadores, e cheguei a paz do orgasmo máximo do bom e velho pecado original.

Sem atravessar um r
io, mas um oceano, eu me apoderei da inspiração do velho sonhador de Florença, para ir do inferno ao paraíso em um passo de dança.

À minha Beatrice

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