quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Bom dia, tristeza

(De preferência que seja lido ao som da música de mesmo título que o texto. Versão do Adoniran Barbosa, é claro)

Existem tristezas e tristezas. Também existem tristezas que nem são realmente tristes, mas disso eu falo depois. Um fato é que a tristeza em si, é muito mais inspiradora do que a felicidade. Porém, tem vezes que a tristeza é controlável, fácil de ser dominada. Outras nem tanto, te pegam despreparado e, quanto mais se resiste mais dói.

E é nos dias dessas tristezas extremas que você mais precisa de alguém do seu lado. Não é qualquer alguém. Imagino eu que cada um encontra o seu e só ele será capaz de te manter sob controle. Quando digo sobre se controlar, não é se segurar, mas sim o antônimo. Pelo menos comigo é assim. A tristeza vem, me dá um soco no meio da boca, sangra um pouco a minha beiça, mas eu insisto e tentar parecer um herói – feito o Rocky que nunca fui.

A dor de segurar um choro parece ser a maior que consigo sentir. Parece que um daqueles peixes que incham (eu jamais conseguiria lembrar o nome do maldito peixe agora) está dentro do seu pulmão, inflando com todo o gás e te espetando do lado de dentro do seu peito. Existe – assim como as várias tristezas – um número de pessoas pra te confortar. Mas pai, mãe e irmãos não entram nesta lista, pois o amor de família não deve ser comparado nunca com nada.

Sobram os amigos e esta pessoa, a escolhida. Quando se vê alguém que você ama muito – minha mãe, como exemplo real – chorando, com essa tristeza maior do mundo, dessas que parece que não vai acabar nunca, me dói pra caralho. (Parênteses extremamente necessários, só para reforçar o quanto Caralho e Cacete são os adjetivos perfeitos para expressar qualquer excesso). Mas eu seguro firme, até mesmo para tentar parecer forte o suficiente para dar apoio aos entes queridos. E tudo o que eu precisava era do ombro, de um amigo ou dela, mas eu não tinha.

Quando uma pessoa morre, por mais que você não tenha mantido contato com a mesma, tudo parece te dar arrependimento de não ter se envolvido mais com ela. No meu caso foi um tio, que eu fiquei anos sem ver, mas que teve grande influência na minha vida. Quando criança ele me visitava sempre – ele era lixeiro – e chegava na esquina de casa assobiando. Esse simples gesto, um Fiu fiu riu fiu, alegrava a mim e minha irmã, que corríamos só pra ver ele descendo a rua pra nos ver. Ele fazia piadas, imitava um peru (Deus, como podia alguém fazer um “Ah glu glu glu glu” tão bem) e trazia um tempo de alegria a mais na nossa vida. Talvez, por toda essa alegria que ele transmitia, que eu resolvi, aos 4 anos, que queria ser lixeiro quando crescesse.

Depois que cresci, mudei pra cidade grande, fiquei pelo menos 10 anos sem vê-lo. Fui ouvindo as histórias, de como ele havia sido porra louca quando jovem. Curtia um Queen, Pink Floyd, Led Zeppelin, enfim, várias bandas que curto hoje em dia e várias outras que eu poderia ter descoberto se conversasse com ele. Só fui vê-lo novamente já com câncer – vítima do estilo de vida que levava e que tanto admiro, livre. Agora é tarde, todas as histórias que ele tinha pra contar nunca mais sairão da boca dele. E, por fim, a única coisa que eu realmente queria, era ter ela por perto, pra deitar em seu peito e desabar em lágrimas, feito um bebê faminto, sem ter que me preocupar com a maldita dor do choro reprimido.

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