sábado, 21 de fevereiro de 2009

A saga do gordo-careca

Episódio 5

Sim! Um beijo aconteceu. Eu não esperava algo como isto. Ela percebeu que eu também estava corado de vergonha, e eu percebi que ela tinha percebido. Assim que deu soltei um “desculpa pela palhaçada, estou bêbado... gordo dançando é ridículo, né?” e forcei um riso. Mas ela não, ela me olhava fixamente com um olhar matreiro como o de um motoqueiro selvagem. Fui içado para fora do inferninho, assim como quando eu a conheci, e quando assustei um rosto se aproximou bastante do meu e assim um diálogo começou:


– Você se acha pior que todos, não é?

– Ah, depende do ponto de vista, respondi idiotamente.

–Acha sim. Mas não é não.

O diálogo pode até ser curto e sem importância pra vocês, mas pra mim foi como se eu finalmente tivesse descoberto o que é a felicidade. Eu desejava que isso acontecesse desde quando avistei uma menina diferente de todas as outras e que despertava a minha libido e todo o meu amor contido. Claro que quando a vi pensei apenas coisas deploráveis sobre ela, estava acostumado a ser rejeitado por belas mulheres, e minha defesa era desejar que ela fosse destas que despertam uma ânsia de vômito em qualquer um. Mas a única náusea que sentia ao tê-la tão próxima de mim era aquela do desejo que vem destorcido. E com tão singelas frases a menina dos meus olhos conseguiu fazer com que eu me sentisse o homem mais belo. O melhor.

E o mais inesperado foi o beijo. Na verdade era esperado, mas enquanto a boca dela não tocou na minha eu não me convenci de que toda aquela proximidade era um beijo chegando lentamente. Vocês têm noção do que é um beijo como este? Foi a sensação mais extrema que conheci. Eu, que por mais que já houvesse tido outras garotas, jamais havia encontrado tamanha perfeição, fiquei simplesmente abismado, assustado e ao mesmo tempo extasiado com tal maravilha. Eu não direi como muitos dizem que vi fogos de artifício e que meu coração disparou como as metralhadoras alemãs em Stalingrado. Não, eu fiquei morto. Não sentia meu coração bater, meus pulmões se encherem de ar, não sentia nada. Todos os meus nervos se direcionaram para a única coisa importante naquele momento: aquela língua macia, molhada e mais quente do que já havia sentido, que lutava contra a minha numa batalha que mais parecia um tango mal ensaiado.

A imagem desse beijo não sai de minha cabeça: nós dois em pé no meio de um bar copo sujo, com uma trilha sonora que pouquíssimo importava para ambos naquele momento, sendo feitos um pro outro. E o melhor, éramos nós mesmos quem nos construíamos. E ela parecia realmente gostar de me beijar. Não sei como ela podia fazer uma coisa desta. Não conseguia parar de pensar que depois que passasse o efeito do nosso amigo álcool, ela sentiria ódio por ter se deixado levar pela minha declaração mal feita. E realmente ela viria a me revelar mais tarde que se arrependera daquilo por algum tempo.

Eu a amava desde o primeiro beijo, e por isso ela seria a dona de todos os meus pensamentos nos próximos dias, enquanto eu, para a tão completa e ao mesmo tempo complexa mente dela, não passaria de uma lembrança se esforçando para desaparecer. Mesmo eu sendo apenas um erro na vida dela que deveria ter ido embora em dois dias, graças a minha persistência ela foi obrigada a pensar em mim. Eu mandei mensagem no celular (que ela me passou após me deixar em casa) no mesmo dia. Não queria demonstrar toda a minha paixão contida, queria apenas mostrar interesse nela. Não obtive resposta, nem mesmo um código Morse.

É a partir de agora que uma nova fase deste, mal escrito e ridiculamente hiper-romantizado, conto se inicia. Chamarei esta nova era de: A guerra por Sabrina. Uma longa e injusta batalha se travou entre eu (lembrem-se: sou gordo, feio, careca e levemente ignorante) e outros rapazes (com toda certeza mais belos, intelectuais, cabeludos e que, além de tudo, tinham convívio diário com ela nas aulas de cinema), pelo coração de uma garota que não conhecia quão grande o amor podia ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário