quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A saga do gordo-careca

Episódio 4

Enquanto esperava para ir ao show eu bebia cerveja e assistia Two and a Half Man na TV. Super descontraído né? Não, na verdade aquilo era um corpo morto bebendo e olhando pra uma caixa que passa imagens. A minha cabeça não via nenhuma das piadas engraçadinhas dessa comédia americana, ela só imaginava como seria a noite e me fazia suar feito um louco. Quando assustei faltavam 2h pro encontro e eu tinha uma blusa com duas “pizzas” embaixo do sobaco. Desesperei e corri para um banho de emergência.

Logo após já rumei para o ponto de ônibus. Passei na padaria e comprei uma garrafa de vinho barato e bebi metade no ponto e a outra metade no busú. Estava levemente embriagado quando avistei minha diva. Fingi não vê-la (essa é uma boa tática quando não sabe o que falar no momento do encontro), ela veio em minha direção enquanto eu fumava meu cigarro de palha (“Navio de cruzar deserto”) e me disse: “Olá estranho”, eu sorri e perguntei se tinha muito tempo que ela estava ali e que nem tinha visto ela. Pausa para um parêntese gigante:

(O porquê de esta tática ser necessária é que eu estava na porta do bar havia exatamente 5 minutos, mas estes foram muito longos. E quando se espera demais e acha que a pessoa não virá é tenso, e você começa a imaginar coisas, e fica meio retardado – isso quando se é como eu. Mas o que acontece é que ao falar que não tinha visto ela eu inventei uma maneira melhor do que qualquer outra que eu poderia dizer ao cumprimentá-la. Eu poderia ter dito: “Olá, já estava quase indo embora achando que você não viria por que estava dando para outro”, ou “Nossa, bonita roupa” e ela responderia “Não é não, eu estou de pijama”. Ao dizer “Nem te vi, ta aí há muito tempo?” eu além de parecer que não estava ansioso eu ainda dei a entender que tinha acabado de chegar também e que eu não queria deixá-la esperando, o que é bastante cavalheiro. E eu não sei porque estou explicando isso, acho que é porque eu fiquei tenso e com medo de vocês acharem que eu sou um cara bundão que finge que não vê as pessoas por vergonha, aí eu disparo a falar quando fico tenso, e aí eu falo “e aí” um trilhão de vezes e não fecho as aspas nem fodendo.)

Entramos para o show que, assim como todos os shows de rock, atrasou cerca de 3h para começar. Enquanto esperávamos bebemos algumas cervejas e cachaça. Eu não agüentava mais beber, mas não podia admitir, tinha que ser resistente à bebida. E eu viajava nela, observava como ela era linda, o modo de falar, de ouvir mordendo os lábios, a gargalhada super-escandolasa, porém estranhamente deliciosa, a maneira de tragar o cigarro, tudo dela parecia mais maravilhoso.

Uma coisa nela que, por mais nada sexy que pareça, me atraiu bastante foi como ela bebia. Bebia como uma égua e não ficava tonta (ou não demonstrava ficar pelo menos). Me contou que tinha bebido a tarde inteira no bar com amigos (me enciumei todo), derramou uma garrafa de Martini pra dentro de si no caminho pro show e bebera tudo comigo lá. E eu que tinha bebido 3 latinhas de cerveja e uma garrafa de vinho (e pesava 120 Kg) já estava achando que iria vomitar. A minha solução foi falar que não tinha mais dinheiro para beber, mas foi uma decisão muito idiota. Ela me sustentou com pingas o resto da noite, e eu realmente terminaria por vomitar em minha casa.

Foi durante o show que algo belo e ao mesmo tempo ridículo me aconteceu. As músicas iam e nós dois cantávamos empolgados. Na verdade eu cantava e ela apenas ouvia. Não que ela não conhecesse, ela conhecia todas as músicas, mas não sabia cantar praticamente nenhuma devido a um distúrbio que ela tinha que fazia com que não conseguisse decorar letras. Mas o que importa não é isso. O álcool me subiu a cabeça, a empolgação das músicas do mestre me fez perder todo o controle do meu corpo e fazer algo extremamente ridículo.

Começava a tocar uma música muito simpática por sinal, e eu totalmente bêbado a peguei pela mão e comecei a dançar (não sei se todos já observaram, mas gordo dançando já é ridículo por si só), mas o problema é que eu dançava, girava e quando a banda começou a cantar, eu me ajoelhei a seus pés e cantei olhando para ela. Ela ria da dança, mas quando eu ajoelhei ela se envergonhou e suas bochechas ficaram todas rosadas e seu queixo tremia parecendo quer ela despencaria a chorar a qualquer momento. Ela percebia que o que eu cantava era realmente de coração, e às vezes as coisas do coração envergonham. A música era mais ou menos assim:



Quando o navio finalmente alcança a terra
E o mastro da nossa bandeira se enterra no chão
Eu vou poder pegar em sua mão
Falar de coisas que eu não disse ainda não
Coisas do Coração

Quando a gente se tornar rima perfeita
E assim virarmos de repente uma palavra só
Igual a um nó que nunca se desfaz
Famintos um do outro como canibais
Paixão e nada mais

Somos a reposta exata do que a gente perguntou
entregues num abraço que sufoca o próprio amor
Cada um de nós é o resultado da união
De duas mãos coladas numa mesma oração
Coisas do Coração


Mas o mais legal disso tudo não foi a minha vergonha depois do acontecido, mas sim a reação da minha musa...

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