quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A saga do gordo-careca

Episódio 3



Do lado de fora do bar ela bebeu toda a minha cachaça, mas me comprou outra. Disse que odiava aquele cara profundamente. Me enciumei ao pensar que talvez ela o odiasse por já ter tido alguma coisa com o machão. Perguntei por que, e foi então que eu ouvi a resposta mais linda de todos os tempos: ele não faz o meu tipo. É tão difícil achar mulher inteligente hoje em dia. Dizem que é difícil achar homem assim, mas como não procuro um homem, notei que mulheres inteligentes sim, são raras. Ela conseguiu me desinibir, tanto me enchendo de pinga, como com seu papo super sincero e descontraído.

Jogamos uma partida de sinuca, eu quis pagar, mas ela declarou que o perdedor pagaria com a ficha e também a dignidade. Eu fiquei com medo da aposta, mas topei pra mostrar que era macho e confiante. Perdi, é lógico. Ela era linda, e louca. Jogava fazendo caras e bocas, colocava uma perna na mesa e lambia os lábios. Era sensual mesmo sem saber, foi aí que a roupa estranha me pareceu extremamente provocante.

Após a minha broxante derrota, ela muito me caçoou. Eu fiquei sem graça, paguei a ficha e nem citei a dignidade para que ela não se lembrasse. Sentamos na mesa, ela me pagou mais uma cachaça. E então ela disse, “com tanta cachaça eu nem precisa ter ganhado para ganhar a sua dignidade”. E sorriu. Aqueles dentes perfeitos e brancos brilhavam e quase me hipnotizavam. Eu tremi novamente, e ela pegou na minha mão.

Ficamos nessa. Ela pegando na minha mão, na minha perna, e eu apenas rindo sem graça. Conversamos sobre tudo. Contei pra ela que eu nem gostava daquela gritaria que tocava. Falei que preferia um Elvis Presley, ela já falou que também não gostava, preferia um Raulzito. Eu quase chorei, de verdade, nesta hora. Eu menti quando disse do Rei do rock. Minha única paixão era Raul. Meu filho levará seu nome, se é que ele existirá. Fui sincero mais uma vez.

Na outra semana haveria um show de covers de Raul, ali, naquele mesmo bat bar, naquele bat inferninho, naquela bat hora. Estava marcado o próximo encontro. Trocamos telefone e fomos embora. Ela de carro e eu de balaio. Nunca pensei tanto em uma pessoa que eu conheci tão pouco. Sonhei com ela quase todas as noites daquela semana. Pensei em ligar, mas lembrei daquelas dicas de revista de mulherzinha falando pra nunca ligar depois de um encontro.

Resisti bravamente assim como resistiram os comunistas na época da ditadura. Ouvi dizer que toda resistência visa o poder, eu resistia realmente desejando poder tê-la. Finalmente chegou sexta-feira. Cheguei do meu serviço sorrindo como nunca o fiz. Tomei o banho mais demorado que de noiva em dia de casório. Vesti uma das poucas roupas que eu realmente gostava. Um bermudão velho, uma blusa simples, uma sandalinha de couro, penteei minha careca, me lotei de perfume barato dessas revistinhas, e pronto, era um homem pronto para a guerra. Agora só me faltava esperar as 5h que faltavam para o show.

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