domingo, 30 de novembro de 2008

A saga do gordo-careca

Episódio 2

Mas bem, imaginem um show em um lugar pequeno, muito pequeno. Tão pequeno que o nome merecidamente dado pelo público é “inferninho”. É um quarto de uns 10 metros quadrados, com cerca de 80 pessoas e uma banda, sendo que 60 destas, fumam seus cigarros e outras coisas do gênero. O local é abafado, mesmo com ar condicionado, você escorre suor por todos os seus poros. Os amplificadores são tão altos que é impossível que se converse sem gritar no ouvido do outro. Dá até pra sentir seus órgãos internos vibrando com as ondas do som. A música é um rock desses qualquer, bem barulhento mesmo, com direito a berros esganiçados de um cabeludo com cara de drogado. Por mais que você goste, é difícil agüentar por muito tempo.

Pois lá estava eu, ocupando mais espaço do que ocupam as pessoas normais. Minha careca precoce esguichava suor muito além do normal. Eu estava mais bêbado do que costumava ficar, via a sala girar o tempo todo. Fumava um cigarro de palha que se apagava toda hora. Uma boa técnica para se intimar alguma guria por fogo. A banda tocava e chamava a cada duas músicas ,o bonitão que eu comentei anteriormente para cantar, tocar gaita de foles, dançar em cima dos amplificadores, e por fim, chamar uma garota do público para ser a premiada com um delicioso beijo do astro, tipo Bono.

Mas foi então que algo muito estranho me aconteceu. Eu sempre pedia isqueiro, mas isso foi diferente. Eu falei com a garota no intervalo de uma música e outra, e ela não apenas me emprestou, como chegou mais perto e ficou conversando com a minha pessoa. Minha cabeça despelada escorria, agora de tensão, não mais de calor. Ela perguntou se eu tinha um cigarrim de palha pra ela, lógico que eu tinha, tinha na verdade um maço há mais de quatro semanas. Ela perguntou o que eu bebia, eu levantei um copo descartável e disse que era cachaça da mais fudida. Expliquei que não era por falta de dinheiro, mas mais por princípios. Detestava pagar 3 reais em uma cerveja sendo que com 1 eu comprava um copo lagoinha cheio de pinga e ficava legal. Acho que foi a primeira vez que falei algo verdadeiramente meu dito a uma mulher.

Ela pediu um gole. Pai do céu, como uma menina tão bonita bebeu no mesmo copo que a minha boca nojenta lambuzou? E como era bonita. Ela era baixinha, tinha um cabelo diferente, ruivo, curto, com uma leve franjinha, comum, porém muito mais lindo que os cabelos convencionais. Tinha uns olhos expressivos que pareciam nunca mentir. Uma boca tão bem desenhada que parecia ter sido pintada por alguém que a amava muito, e que queria que ela fosse mais que perfeita quando nascesse. O corpo era perfeito: seios fartos, bumbum na medida, coxas finas, mas que davam vontade de lamber até que sumissem. As roupas dela não eram muito normais, sabe essas roupas de professora de português? Mas enfim, ela era estranha, porém maravilhosa, e além de tudo, inteligente.

Enquanto a música tocava, o mestre da casa fazia um streep no palco e as mulheres gritavam para serem a escolhida para beijar o príncipe. Ela não, ela olhava pra mim de vez em quando. Isso é que me deixava mais louco, eu queria olhar pra ela o tempo inteiro, mas ela olhava pra mim e sorria, e meu rosto ficava em chamas e eu olhava para o palco, fechava meus olhos, fazia tudo que eu costumava fazer quando estava encenando. Mas foi então que ele, praticamente que para me sacanear, escolheu a minha musa para lhe beijar. Minha alegria interna foi todinha para a casa do caralho. Ainda bem que aquela crise depressiva passou rápido. Ela fez uma cara de nojo, desviou do corpo dele e pegou na minha mão. Eu tremia, e queria chamar pela minha mãe enquanto ela me guinchava para fora do “inferninho”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário