quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A saga do gordo-careca

Episódio 1

Não sei se você é da classe dos que gostam de shows. Eu não gosto de verdade, aproveito só a abstração desses locais. Shows são cheios de pessoas, pessoas estas que adoram gostar de música. É claro que mesmo amando ninguém conhece todas as músicas. Eu sou o cara que nunca conhece nenhuma. Escuto o som, balanço a cabeça, finjo que sei cantar os refrões quando repetitivos (sempre erro, mas tento), imito instrumentos no ar como se soubesse tocar, pulo quando todos pulam, grito quando ouço berros. Fechar os olhos é o lance! Parece que está viajando legal. Mas nunca viajo, estou sempre pensando na maldita espinha que apareceu em minha testa, na unha encravada, no beijo que eu nunca dei na menina que eu nunca conheci.

Além de música eu também gosto de conversar. Mas só falo mentiras, nunca sou eu de verdade. Eu nem sei por que esse idiota resolveu escrever fingindo ser eu. Minha vida é, das comuns, a mais sem graça que já existiu. Quando falei que só falo mentiras é realmente só mentiras. Se alguém me pergunta se já usei drogas, eu juro de pé junto que me entorpeci com todas as existentes. Se o assunto é sexo, eu falo que o que mais gosto é de chupar perereca, sendo que na verdade eu nem sei o que é um clitóris. Quando finjo gostar de literatura argumento sobre livros que nunca li, ou então sobre aqueles que digo ser louco pra ler, mas que na verdade nunca lerei.

Eu sou uma espécie de anti-herói, mas até eles me achariam chato demais e me excluiriam do sindicato deles. Eu nem sei o que é um anti-herói, falo dessa raça de herói só porque ouvi uma vez em um programa de TV e achei a palavra linda.

Eu sou um ator, e o panaca que me inventa é o diretor. Às vezes eu não sei se eu sou ele, ou se ele é ele e eu sou ninguém. Só sei que o maldito acertou meus pensamentos desde o princípio.

Enquanto eu sou o cara condenado pela chatice, a merda que pra ti escreve é coroado rei dos melhores do mundo. Pode ser qualquer a música tocada, ele sabe de cor. Se balança seus cabelos compridos (esqueci de dizer, sou um gordo careca) ninguém o olha achando que é retardado, mas que é maluco. Ele não fingi tocar no ar, ele sobe no palco e toca, qualquer instrumento que seja, com a banda presente. Ele pode fechar os olhos e viajar de verdade, coisa que eu nunca fiz verdadeiramente. Drogas? Esse é o primeiro nome dele. Na verdade é o do meio, sexo sim é o primeiro. Sexo Drogas é um cara perfeito para o mundo das perdições. Qualquer guria fã do Kurt Cobain libera a merreca só de o ver cantar e dançar, mesmo que seja um axé bem podre.

O filho da puta é conversado. Faz amizade em qualquer buraco que se encontre, e muitas vezes isso acontece porque ele não só fala dos livros como cita trechos em voz alta e em cima da mesa. Esse maldito escritor (o narrador sou eu, onisciente e onipresente) é o cara que realmente merecia ser o dono da história. Mas não, vamos falar do pobre derrotado que não consegue nem sequer fingir que sente raiva de alguém que ele desejava muito ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário