sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Amor, intelecto-amor

Ânsia de vômito! Não sei se pela bebida em excesso, ou se pelo desgosto que desce como um fruto amargo goela abaixo.

Isso não deveria ser um primeiro parágrafo, mas será. Nem este deveria ser o segundo, mas permanecerá sendo. Não como ato de subversão à estética, mas como subversão à rebeldia. E não começarei um novo parágrafo. Este texto já começou sendo idiotamente imbecil. Pouco me importa, o que me importa agora é a dor. A dor é boa como uma coisa que deve ser gostosa. Gostosa como a dor que se sente no coração. A dor que se sente como se saísse do fundo de seu amor. O amor é algo amável. Afirmações que deveriam ser suposições. Frases que deveriam ter sentido.

Tudo dói. Meu olho dói, pedindo por uma lágrima que só saiu na hora que não precisava sair. Meu estômago revira como uma máquina de lavar na retro-lavagem. Minha mão já não sabe mais como agir. Meu cérebro já não sabe o que pensar. Se qualquer coisa que for pensada, já foi pensada, quem dirá as coisas feitas então.

Falei coisas sem falar a única coisa que me resta falar. O amor.
  Aguarde instantes enquanto vou ao banheiro forçar um vômito... Coisas lindas foram escritas em pensamento, enquanto eu jogava fora coisas que não deviam ter sido vomitadas. Coisas que se escritas, provocariam arrepios até em quem não tem pêlos para arrepiar. Coisas ridículas também foram desenhadas em meu imaginário.

Digito com meu dedo que há pouco arranhava minha garganta que deliciara um dia, um gosto que talvez jamais apreciarei novamente. Gosto que sinto saudade como nunca senti. Saudade que nunca senti nem do boneco que incendiei aos 13. Meu olho desperdiçou lágrimas. A confusão que penso é muito pior do que aquela que sinto, quando ela me pergunta em que eu penso. Ela nunca entenderia o que eu penso. Nem mesmo eu sei em que penso.

Saber é difícil. Sei sempre que não tenho conhecimento de nada que realmente tem valor. O que tem valor eu só soube quando vi um princípio de choro em um rosto que nunca vi chorar. Ver quem se quer sempre bem, esboçar um choro, já dói tanto quanto ver sua mãe – que você nunca faria chorar se soubesse o peso que têm essa lágrima – escorrer pelo rosto este líquido maldito.

Dói. Muito dói. Preferia que agora uma faca me atravessasse o ventre. Que me perfurasse o peito e me obrigasse a comer o próprio coração. São sensações que, se alguém que não existe quiser, nunca sentirás.

O vômito vem como que substituto da lágrima. Mas eu seguro, não sei se o choro ou a bile. Tudo gira. Por favor, não fale que conhece o mundo sem nunca ter sentido o mundo girar.

Viro o rosto. Vejo uma garrafa de pinga, vários livros, algumas fotos, roupas sujas. Vejo o lixo da humanidade, e escrevo isso só por achar que soaria bonito. Escrevo sentindo minha unha mal comida agarrar. Pra que, afinal? Não sei, quem sabe pra me libertar. Ficar livre de que, animal? Não sei, quem sabe da dor que tanto me dói.

Fico aos prantos ao som das lágrimas de quem não quer chorar. Escrevo coisa que acho lindas, achando horrorosas apenas por achar. E poéticas, essas coisas apenas me fazem lembrar ela, apenas ela.

As coisas que vivo, as coisas que tento não viver, tudo me remete a ela. Mas porque? (Quero que meu professor de português morra ao ver que escrevo os porques errados. Sem acento assim, igualmente parecido com os por ques que desejo para o fim).

Volto a olhar para o nada. Não vejo tudo, assim como vejo a borda de minha calça, já utilizada, suja do chão que desejara nunca ter pisado. Vejo que tudo é efêmero. Inclusive a palavra efêmero. Tão efêmera como esta, simplesmente não existe. Pretendo nunca mostrar isso pra ninguém, assim como desejo que vejam e chorem as lágrimas que não chorei pelo motivo que realmente queria.

Lembro dela quando queria lembrar de mim. Lembro da minha felicidade, proporcionada por ela, como deveria rever uma pessoa que tanto me quis. Penso que ela já não me deseja na mesma proporção que desejo que ela sinta a felicidade que não existe. Paro de escrever quando deveria começar a escrever sobre alguém que, definitivamente – falo isso com a convicção de alguém que mata por desejo de matar – sabe como me fazer sorrir. Fim.

Linda palavra afinal. (É agora que volto a pensar, muito pensar, quase desfalecer, e concluo que não pode haver um final aqui)

2 comentários:

  1. Acho que outro cara escreveu a respota pro seu texto...
    Você nunca varou A Duvivier às cinco
    Nem levou um susto
    Saindo do Val Improviso

    Era quase meio-dia
    Do lado escuro da vida
    Nunca viu Lou Reed
    Walkin' on the wild side
    Nem Melodia transvirado
    Rezando pelo Estácio
    Nunca viu Allen Ginsberg
    Pagando um michê na Alaska

    Nem Rimbaud pelas tantas
    Negociando escravas brancas

    Você nunca ouviu falar em maldição
    Nunca viu um milagre
    Nunca chorou sozinha dentro de um banheiro sujo
    Nem quis ver a face de Deus

    Eu já frequentei grandes festas
    Nos endereços mais quentes
    Tomei champanhe e cicuta
    Ouvindo comentários inteligentes

    Mais triste do que de uma puta
    No Barbarela às 15 pras 7
    Já reparou como os velhos
    Vão perdendo a esperança
    Com seus bichinhos de estimação e plantas

    Eles já viveram tudo
    E sabem que a vida é bela

    Já reparou na inocência cruel das criancinhas
    Com seus comentários desconcertantes
    Elas adivinham tudo
    E sabem que a vida é bela

    Você nunca sonhou
    Em ser currada por animais
    Nem transou com cadáveres
    Nunca traiu o teu melhor amigo
    Nem quis comer a sua mãe

    Só as mães sãos felizes
    Porque nos dão a vida
    Só as mães são felizes
    Porque podem nos dar a vida

    Você nunca ouviu falar em maldição
    Nunca viu um milagre
    Nunca chorou sozinha dentro de um banheiro sujo
    Nem quis ver a face de Deus
    Só as mães são felizes
    http://faelmars.blogspot.com/

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  2. tão bêbado, mas tão lindo! hohoho

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