sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Mero José

Após esta noite, ao acordar de um sonho um tanto assustador, eu fiquei a pensar sobre coisas que, não sei por que, o sonho me fez lembrar. Pus-me a filosofar sobre coisas sem sentido, tão sem sentido que é impossível passá-las para palavras. Só sei que no final, com a cabeça latejando − porque pensar cansa, ao contrário do que muitos pseudo-pensadores dizem −, concluí, então, que nós não passamos de um nada. Somos um nada capaz de pensar, armazenar lembranças, criar coisas fascinantes e misteriosas, e, acima de tudo, capaz de dominar outros seres. E por que isto nos tornaria algo além de um nada, quando comparados com tudo que existe?

Está certo que toda esta baboseira metida a subversiva que eu falei é bastante nonsense, mas o que fazer se quando acaba de acordar é tão difícil organizar os pensamentos. Mas após certo tempo, após ter aquecido a minha massa cefálica, pensei mais sobre de onde se originou toda a baboseira. E acabei por cair em outro dilema. O que somos nós se não essa voz que nos fala o tempo inteiro na cabeça? O que nós vemos no espelho, e muitas vezes gostamos ou desgostamos é tudo, de menos eu. Eu sou o que penso e não o que visto, falo, faço, pinto, canto, danço etc. Aquilo que vejo no espelho não sou eu, é ele, é o José; um comum solto −ou então preso, como preferir − no planeta, juntamente com um monte de outros Josés, que pensam assim como eu, ou não, na verdade, não. Não pensam assim como eu, porque todos pensamos diferente, todos vemos as coisas de maneira distinta. Ah, que baboseira mais impertinente e inconveniente.


Ouvi dizer em algum lugar − na verdade eu sei onde ouvi, mas não quero falar −, que pessoas morrem e ninguém se lembra com o tempo, mas as idéias não, elas são eternas. Será que essa voz que me fala na cabeça, por alguns chamada de alma e por outros de eu, não passa na verdade de uma idéia. Idéia que, quem sabe, após se libertar daquilo que se vê no espelho, ficará vagando, flutuando, volitando, voando ou quem sabe andando com as pernas que não tem pelo universo sem fim? Será que é sem fim mesmo? Ih, lá vem mais um papo de maconheiro. Não, não. Prosseguirei com a coisa da idéia-alma.


Se as idéias são organizadas através de palavras, e as palavras são apenas uma invenção humana, a idéia (ou alma) não seria criada por nós, Josés, portanto? E se os homens estão na terra há tempos, essas idéias não devem ter saído daqui. Ah, mas tem coisas que é melhor seguir a fé − que é outra criação do José, com o único intuito de nos permitir ser nada acreditando que seremos alguma coisa um dia − e a minha diz que acima de palavras criadas por nós, gira algo que palavra alguma sintetiza perfeitamente: o sentimento.


O sentimento, creio eu que é a única coisa que sobrevive, pois isso sim não é criação nossa. Existe porque existe, e nós sabemos disso, porque quando se fala de amor, por exemplo, todos sabem o que é, mas não porque lemos o dicionário, e sim porque já sentimos isso. Se isso é uma coisa sem explicação, mas conhecida por todos, provavelmente deve ser algo que existirá, também, nos outros planetas, se é que estes existam. Lá deverá existir a saudade, o ódio, o tesão e dentre tantas, a felicidade.


É certo que qualquer coisinha de merda, criada por outro José de merda, nos deixa aparentemente felizes. Mas quantas vezes eu me vejo cercado de coisas que muitos matam pra se ter, e sinto um vazio, imenso e infinito feito um buraco negro, em meu peito? E quantas são as pessoas que não têm nada e se sentem o verdadeiro Deus? Como é que se explica isso? Não se explica, simplesmente se aceita. E é isto o que me torna um mero José. 

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